terça-feira, 18 de setembro de 2012

Crisis? What Crisis? (Parte III) - Quando Portugal tomou o rumo da Grécia...





Rescaldo da reunião de ontem da Comissão Permanente: como se previa, o PSD "meteu o rabinho entre as pernas". Claramente, não há consenso interno e o próprio Dr. Passos Coelho já está "na berlinda". Foi particularmente interessante ver o Dr. Luís Filipe Menezes, pleno de killer instinct, apelar à remodelação governamental.

Os meus cenários para o desenvolvimento da crise política no curto / médio prazo (de ontem à tarde, ainda antes da reunião da Comissão Permanente do PSD que, como era expectável, nada modificou):


Remodelação do Governo - versão 1


Terá por objectivo justificar o recuo quanto às alterações na TSU, responsabilizando alguém pessoalmente (prática equivalente, no nosso tempo, às execuções públicas que eram norma desde a Idade Média até ao séc. XIX, organizadas para gáudio da populaça).

Vítima mais provável: o "ideólogo", parteiro da polémica Medida, e principal econocrata (gostaram do léxico?) do Governo - não podendo ser Passos Coelho, o que faria automaticamente cair o Executivo, lá terá de ser supliciado o Dr. Gaspar. Pode levar junto, a título de bónus, o "Dr." Relvas.


Remodelação do Governo - versão 2

O Dr. Passos Coelho não aceita recuar quanto à TSU e exige pública profissão de fé dos "hereges" (membros do Governo indicados pelo CDS); caso contrário, fogueira com eles (leia-se, demissão desses Ministros e Secretários de Estado relapsos).

Os ministros centristas abandonam o Governo e a coligação passa a ser sustentada, exclusivamente, num Acordo de Incidência Parlamentar.

Tratar-se-ia de manobra kamikaze por parte do PSD, mas já vimos por diversas vezes, desde Maio de 2010, o Dr. Passos Coelho dar sinais de uma irresistível atracção pelo abismo (leia-se, no caso concreto, queda do Governo e perda da liderança do PSD - a ordem dos factores é arbitrária, em termos de precedência no tempo).

Recordo a carta que enviei ao Dr Passos Coelho, capeando um fósforo e respectiva lixa, quando ele, ao lado do Eng.º Sócrates, sentiu uma irreprimível necessidade de se imolar politicamente, exprimindo pública solidariedade com o então Chefe do Governo socialista. Será que lhe devo enviar agora uma outra, capeando um isqueiro? Ou espero que, à la Clint Eastwood, ele, inevitavelmente, faça um novo pronunciamento ao país, em tom grave e ameaçador, do género "Make my day..."?...

Apesar do timbre jocoso deste desabafo, vejo a situação com muita preocupação e alguma amargura: o Dr. Passos Coelho, a abarrotar de irreflexão, teimosia e falta de sentido de oportunidade, catalisado pela cega e diligente cumplicidade económetro-dogmática (mais criatividade lexical, Saussure oblige) do Dr. Gaspar, pode ter deitado a perder dezasseis meses de estóicos sacrifícios da nossa gente portuguesa que, apesar de tudo, estavam a permitir que o País atingisse as metas cruciais para o restabelecimento da sua soberania financeira.

É pena.

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